Moradores de RS estão há 23 dias sem luz e lutam para conseguir água potável
Com as novas chuvas que começaram na última sexta (24) em Porto Alegre, o risco à população de ficar enchentes afetando o acesso à água e contaminação de bactérias ainda não passou.
O chefe da equipe de vigilância de saúde ambiental e água de Porto Alegre, Alex Lamas, afirma que o uso de água não-potável como de bicas, ou mesmo coletada da chuva, pode acarretar em contaminação por bactérias, vírus e protozoários.
Por outro lado, moradores têm tido dificuldade em encontrar locais para obter o insumo.
Na rua dos Andradas, conhecida popularmente como rua da Praia, um dos logradouros mais antigos da cidade, moradores estão há 23 dias sem eletricidade e abastecimento de água, já que não há energia para bombear o líquido até as caixas d’água.
A comerciante Sonaly Silvestrini mora no nono andar de um edifício na Rua da Praia. Está sem luz desde o dia 1º de maio. A caixa d’água do prédio ficou vazia no dia 3. Desde então, ela enche galões de água descendo 169 degraus —em 20 dias já conseguiu estabelecer a contagem precisa.
Há cerca de cinco dias, o abastecimento de água foi normalizado e a água chegou nas torneiras do térreo do prédio, mas precisaria de eletricidade para subir até o nono andar.
Das 45 famílias que vivem no edifício, apenas três permaneceram o tempo todo nos últimos 23 dias no imóvel. Proprietária de um brechó do outro lado da rua, ela conta que o estabelecimento foi o motivo para não querer deixar a casa: “Nossa fonte de renda é a loja. A gente todo dia tem esperança de voltar a trabalhar. Eu não tenho o que fazer, eu tenho que lutar. Mas a gente está no limite”, disse Silvestrini.
No mesmo quarteirão, o escritor Antonio Padeiro mora com o cachorro Chico no segundo andar de um sobrado, e também está sem abastecimento de luz e água desde o dia 1º.
Padeiro ficou alguns dias ilhado, com medo de se contaminar nas águas que inundaram a rua da Praia.
Até que começou a sair pelos fundos e pular a cerca de um estacionamento que dá para uma rua mais alta. Atualmente, a rua já está seca e é possível sair e entrar pela porta da frente. “Tem muita gente que está fazendo ação social, uns trazem água, marmitas. Eu não tinha onde comprar, não aceitavam cartão de crédito, pix”, disse Padeiro.
Sem torneiras no térreo do sobrado, ele segue não tendo acesso à água, que não tem força para subir até o segundo andar. Ainda assim, Padeiro mantém o bom humor. “Estou achando o máximo tomar banho de água mineral”, ironiza.
Segundo Lamas, da prefeitura, alguns dos sintomas que podem aparecer se houver contato com águas contaminas são irritação na pele e ocular, gastroenterite e vômitos. “Essa água pode ser utilizada para o vaso sanitário ou para regar plantas, mas para o uso nobre, como a ingestão e preparação de alimentos, deve ser utilizada a água tratada, da rede, ou engarrafada”, disse.
Outro cuidado em relação à água é o contato com áreas inundadas, onde a chuva se mistura com esgoto. A doença mais comum nestes casos é a leptospirose.
“A gente recomenda o uso de equipamentos como luvas e botas no contato com essas águas. O contato da água com alguma ferida ou apenas o contato prolongado com a pele aumentam as chances de ter a doença”, explica Lamas.
Se sintomas como febre alta e dores na panturrilha aparecerem, a pessoa deve procurar a rede de saúde. Porto Alegre tem um óbito por leptospirose confirmado desde o início das inundações e em todo o Rio Grande do Sul são quatro mortes.
Por: Jornal de Brasília
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